dezembro 16, 2002

The Lurker vai ao casório (ou Torquemada, meu herói.)

O padre já ia pela sua meia hora de sermão, tendo deixado o “sal da terra” para outra cerimônia quando finalmente me dei conta do que, afinal, me incomodava: os nubentes já tinha um filho, certamente com seus três anos, e a noiva, de branco, era enaltecida por suas qualidades maternais. Uma cena comovente não estivesse contra os procedimentos pregados usualmente pela igreja, ainda mais em tempos de concílio vaticano II. O que diria o Observatório Romano, órgão oficial de divulgação do eclesiástico?

Nessas ocasiões sempre faço um retrospecto das diferentes posições da igreja acerca dos comportamentos das pessoas durante os séculos. Houve um tempo em que uma cena deste tipo era encarada com outros olhares. Houve um tempo em que simplesmente não aconteceria. Verdade seja dita, tempos de alguma forma mais hipócritas do que os que vivemos hoje. Por outro lado, esta “flexibilidade” certamente faz com que as pessoas se sintam mais felizes por atingirem seus “objetivos” mais facilmente. Não mudaram agora os pecados capitais? E já não haviam mudado antes? Bem, de onde partiu a definição?

Não me lembro exatamente qual a passagem da Bíblia que diz que mais vale um pecador arrependido do que cem justos (com o perdão da citação mal feita). Se assim é, qual o objetivo de se ser “justo”? Que dizer de todas as pessoas que fazem suas escolhas pelo que pauta a norma, para ver que recebem a mesma acolhida e são louvados por isso aqueles que não fazem o mesmo? E quem tem a autoridade moral para julgar isso? O sacerdote, tratando a divindade como se fosse uma franquia?

Certamente quem me ler, além de achar-me um sujeito muito chato, pensará que acho que isso tudo está errado que para sacristão só me falta o crucifixo (ou talvez o contrário).

Ledo engano. Minha bronca está na miríade de interpretações que a igreja dá aos mesmos fatos através dos tempos. Penso na quantidade de pessoas que foram infelizes antes deste casal, porque não puderam ter as mesmas coisas em seu tempo. Penso na estupidez que é a definição católica de pecado e o quanto a religiosidade oriental é mais sábia que a ocidental neste aspecto, sem recorrer à culpa para “controlar” o homem. No quanto se limitam as pessoas em função do dogma e da frustração que se impõe em função de costumes cujas origens e finalidades já não se conhecem.

Finalmente, as felicitações aos noivos são sinceras... o repúdio ao cinismo clerical também.

The Lurker says: o clero conecta a divindade ao homem... mas este já recebera a mensagem sem portador.

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